sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Caps 4-15

Cap 4 

Nem de pé eu aguentava continuar. Todos os dias acordava cedo e dormia tarde. Eu vi praias, shopping, babei nos estúdios de gravação; e hoje era o ultimo dia. Iríamos ficar o dia inteiro no hotel, com computadores ligados e telefones no volume de toque mais alto que tinha. Eu tinha acordado era meio dia, e a Isa ainda dormia. Nos pés de nossas camas tinham pilhas de sacolas. O quarto em si estava uma bagunça, então eu tinha que me espremer entre as malas, para conseguir chegar no banheiro. Tomei meu banho, me troquei, e tentei ao máximo arrumar meu cabelo. Era hoje, o ultimo dia para entrarem em contato. 
Sai do banheiro, e a Isa já estava acordada, enfiada na cama com a Tv ligada.
—É hoje, minha Celeste!- ela disse.
—É, e é hoje que nós vamos arrumar essa bagunça desse quarto.- Eu disse.- Não to conseguindo nem olhar pro chão!
—Ta, ta. Talvez de tarde.
—Filha, já é de tarde.
Ela olho espantada para o relógio.
—Meu deus! O Rafa disse que a minha mala tem que estar pronta até hoje de noite!
—É, tanto a sua, quanto a minha! Eu também vou sair desse hotel, independentemente do resultado!
A proposta feita pelos nossos pais, era que, se eu conseguisse o papel, me mudaria para cá, mas a Isa tinha que ir embora, para começar a faculdade.

Depois do café da manhã, começamos a arrumar o quarto. Meu deus, eu precisava desse papel para conseguir pagar tudo o que eu comprei!
No fim deu três malas para mim, e umas quatro para a Isa. Senti meu celular tremer no bolso. Fiquei pálida.
—Excesso de bagagem.- ela se lamentou.- O Rafa vai ter que ficar com uma mala minha.
Não estava prestando atenção nisso, e sim encarando o celular na minha mão com surpresa. Não acreditei na mensagem que recebi.
—Que foi garota parece até que viu um fantasma!-falou a Isa.
—Eu fui aprovada.- murmurei.
—Você o quê???-ela berrou.
Eu li a mensagem em voz alta:
"Prezada Sarah Kenneth Oliveira.
Através desse email a nossa equipe de filmagem da série A Seleção, gostaria de te parabenizar pelo seu incrível desempenho. Você foi aceita!
Segue abaixo o anexo, de seu primeiro encontro com a equipe de filmagem.
Equipe Lylian Filmes."
Terminei a leitura chorando, quando percebi que a Isa estava me filmando.
—Bem vinda a Hollywood!- Ela gritou, ma abraçando.
Depois da maior festa que fizemos naquele quarto, o Rafa chegou.
—Que bagunça é essa?- Ele perguntou.
—Ela foi aceita pai! Ela foi aceita!- Gritou a Isa
Rafa olhou com surpresa para mim. Pediu para que eu lesse o Email, verificou quem o tinha enviado e mais mil coisas. Ele entendia de computador. 
—É, esse email, ao que me parece é real! Parabéns Sarah!- ele disse me abraçando.
Eu não estava acreditando. Eu era uma atriz. Eu finalmente ia entrar literalmente em um livro. A Seleção ia começar.

Cap 5 

Estava indo para o estúdio. O avião da Isa só partiria hoje de noite, então daria tempo de eu me despedir dela. Chegamos no portão numero 4, e eu entreguei minha identificação para o segurança. Passados alguns minutos ele liberou a minha entrada. 
No primeiro passo que eu dei, já tinha me perdido. Estava marcado que eu teria de encontrar a equipe no estúdio 9, mas eu não o achava em lugar nenhum. Comecei a me desesperar, até encontrar uma figura conhecida.
—Fernanda!-chamei.
Ela virou, e logo abriu um sorriso.
—Oi Sarah! Ainda bem que eu te encontrei, eu estou totalmente perdida aqui.- ela disse.
Notei que ela tinha um sotaque diferente.
—Bom, eu não vou ser de muita ajuda, também estou perdida.- ai eu me toquei.- Pera! Você é a America?!
Ela abriu um sorriso.
—Sim! Eu consegui! E pelo jeito você é a Celeste?
—Sim... Ainda não acredito nisso...
—Mas, podemos ser amigas ainda né? Eu me socializei com você, e sou péssima em me socializar.- disse a Fernanda.
Não aguentei e ri. Isso era muito contraditório.
—Claro, acredite eu também não sou boa com isso.
E assim seguimos nosso caminho, conversando e rindo juntas. Talvez eu tenha realmente encontrado uma amiga aqui.

Depois de andarmos uns 2 quilômetros, e perguntarmos para umas 20 pessoas o caminho, achamos o estúdio. Entramos pela porta, e seguimos direto por um corredor gigante, que acabava no estúdio. Perdi o ar.
—Isso... É...- murmurei.
—Um sonho.- completou a Fernanda, também fascinada com tudo.
Telas de tv, câmeras, cadeiras dos diretores, figurinos... Uau. Sonho era a palavra certa para descrever aquele lugar. 
No centro daquele lugar, se encontrava um amontoado de pessoas, que certamente eu não fazia idéia de quem eram. Apenas reconheci os jurados, mas certamente a Kiera não estava lá. Eu hesitei. Não sei por que mas não conseguia me misturar com aquelas pessoas.
—Medo?- perguntou a Fernanda sorrindo.
—Quase isso.- respondi com um sorriso torto.
—Ora, vamos logo!- ela me disse puxando junto de si.
Quando nos aproximamos podia ver o rosto de todas as pessoas dali se voltando para nós. 
—Ora, que pontualidade!-exclamou um dos jurados. 
Será que estávamos atrasadas? Ele estava sendo sarcástico? Verifiquei o relógio, e era exatamente a hora marcada, para o começo doa ensaios.
—Bom, agora estão todos aqui, vamos começar.- disse o mesmo jurado. Ele era um homem alto, com os cabelos negros cacheados. Ele usava óculos escuros, apesar de estarem dentro de um lugar fechado. Não aparentava ter mais de anos.- Bem vindos, meus caros atores! Eu sou Sebastian, o diretor da Seleção. Aqui ao meu lado está Jennifer, a nossa roteirista, e do meu outro lado Lucas, o diretor da gravadora. Como sabe,eu, e eles julgamos cada um de vocês nos testes. Agora iremos apresentar cada ator e seu devido personagem.
Ele, Sebastian, pegou uma lista e começou a chamar cada um e apresentar seu papel. Fizemos uma roda, e cada nome chamado ia até o centro para se apresentar. Sebastian começou com os personagens secundários, e depois foi indo para os principais. Eu não sei mais algo estava fazendo eu me sentir como uma formiga no meio daquela gente de Hollywood.
"Você é um deles agora!" Gritou a maldita voz na minha cabeça, exatamente na hora em que chamaram o meu nome.
Eu me dirigi até o centro e Sebastian me apresentou.
—Sarah Kenneth Oliveira, como Celeste.
Senti olhos me perfurarem, e fiquei lá parada, no meio daquele círculo de gente.
—Pelo visto não é Americana.-Se pronunciou a Jennifer consultando, o que parecia, minha ficha de dados.-Brasil?
—Sim.- respondi.
—Difícil de se acostumar com aqui?- Ela perguntou de um modo nem amigável, nem grosseiro, mas neutro.
—Um pouco.
—Normal, mas você vai se acostumar, do mesmo jeito que facilmente conseguiu o papel.- ela disse sorrindo, e pela primeira vez parecendo animada.
Me voltei rapidamente para o lado de Fernanda. Após alguns segundos, foi chamado mais uma pessoa. 
—Ethan Verona Miller, como Maxon.
E um menino se dirigiu ao centro do circulo. E eu perdi o ar.

Cap 6

Aquele menino... Ethan. Como ele simplesmente decidiu aparecer aqui? Se inscrever no mesmo seriado que eu? Percebi que eu estava encarando-o, e ele encarava de volta. A Fernanda percebeu a troca de olhares.
—Ele é gato, não?- ela cochichou sorrindo.
—Não! Definitivamente não!
—É claro que é menina! Ou ficou cega! Meu Deus esses cabelos cor de canela, os olhos azuis...
Simplesmente parei de escutar, e decidi me enfiar nos meus pensamentos... A primeira vez que eu o vi foi em um acampamento de teatro na Argentina. Era um projeto que eu participei que envolvia pessoas do mundo inteiro. Eu tinha ganhado uma semana para participar desse acampamento, e no primeiro dia conheci ele. Ele era dos E.U.A, uma criatura tão irritante, que eu queria enforaca-lo. Se achava melhor que tudo, e que todos. Cada exercício que tínhamos que fazer juntos era uma desgraça. Acabamos parando em uma conversa séria com a diretora do projeto, por causa de uma briga que envolveu... Facas. 
Só sai de meus devaneios, por causa que a Fernanda estava me chamando.
—Oi...
—Meu deus! Que desatenta, o pessoal está se dividindo em grupos e você ficou no meu... Você escutou alguma palavra do diretor?- ela perguntou séria.
—Er... Não.
—Tá é o seguinte, estamos no grupo A, de personagens principais. A gente vai se reunir e conversar com a Kiera, então preste a atenção, ou estará perdida!- ela disse me puxando para uma sala.
A sala em si era pequena, e contava com um numero de pessoas bem menor do que o de antes. Me sentei, ao lado da Fernanda, em um dos sofás da sala. No mesmo instante percebi o Ethan sentado no sofá ao lado, me encarando novamente. Decidi ignorá-lo.
Passaram-se alguns poucos minutos e a Kiera entrou. Estava radiante diante da equipe. Ela se sentou em uma poltrona na frente do sofá em que eu e a Fernanda estávamos sentadas. 
—Pelo visto a Celeste e America daqui, são amigas!- ela disse sorrindo na nossa direção.
Eu estava com a aparência calma por fora, e prestes a explodir por dentro. O mesmo se aplicava com a Fernanda.
—E pelo visto, o Maxon também conhece a Celeste.- disse a. Kiera ainda sorrindo.
Opa pera. Como ela sabia? Ai prestei a atenção. O idiota ainda estava me encarando, e a Kiera percebeu isto. Que feliz pra mim.
—Ãhn.. De certa forma, sim.- ele respondeu.
A Fernanda olhou para mim de forma acusadora. Legal, o que ela queria que eu fizesse? Contasse de um cara que desapareceu da minha vida a milênios?
Aos poucos a conversa se tornou, algo próximo de agradável, mas eu realmente só queria que a hora do almoço chegasse logo. Pelo jeito teria que contar uma longa história para a Fernanda.

Cap 7

—Então é isso.- disse terminando de contar a história de mim e do Ethan para a Fernanda,
Estávamos no refeitório, e a Fernanda já tinha terminado de almoçar.
—Ah...- foi tudo o que ela disse.
—Então não me olhe mais daquela maneira acusadora quando falarem dele! 
—Calminha... É que eu achei que ele fosse seu namorado e você...
Gargalhei tão alto que as pessoas ao redor me encaravam.
—Namorado? Tá louca?
—Ah, sei lá... O jeito que ele te olhou...-ela disse segurando a risada.
—Cala essa boca Fernanda!
—Vish, tá estressada.
—Lógico!- disse. Era óbvio, ela tinha acabado de falar que o garoto que eu mais odeio, olhava para mim com cara de apaixonado!
—Então- continuou ela- não olhe para a porta.
Foi exatamente o que eu fiz. E me arrependi. 
—Ora, ora, ora... Quem diria que nos veríamos novamente Sarah.-Começou Ethan provocando.
—Toma vergonha nessa cara!-eu disse me direcionado para a porta.
—Não mudou nada desde a ultima vez...-ele murmurou.
Eu parei, e olhei furiosa para ele.
—O que você disse?- falei me aproximando o bastante para poder dar um tapa na cara dele, e reunindo toda a fúria possível na voz; enquanto ele me encarava com divertimento.
—Calma Sarah...- começou a Fernanda.
—Eu disse...- mas ele não terminou, pois alguma pessoa tinha esbarrado em mim, me desequilibrando.
Tropecei e cai em cima do Ethan. Ficamos cara a cara um com o outro, tão próximos que eu podia sentir seus batimentos cardíacos. Fique vermelha da cabeça aos pés.
Me levantei, e rapidamente sai do refeitório, sentindo olhares se recaírem sobre mim. Logo depois escutei passos se aproximando de mim.
—Sarah, para de correr!- gritou uma voz, que logo reconheci ser de Fernanda.
Olhei para trás, e vi a dona da voz correndo atras de mim. Parei, e me sentei em uma poltrona no corredor. Por que tinha uma poltrona no corredor?
—Desculpe, é que se eu ficasse num raio menor que de um quilômetro do refeitório, eu iria acabar sendo demitida por causa de uma briga envolvendo facas.-disse.
Ela começou a rir.
—Meu Deus, mesmo você odiando ele, confesse que ele é gato vai...
—Se você quiser entrar em uma briga comigo, repete o que você disse.
—Desculpe-me, Celeste. 
—Cala essa boca America.
Começamos a rir feito loucas naquele corredor. Continuamos conversando por um bom tempo, até ela fazer uma pergunta.
—Então, onde você vai morar agora?- perguntou.
—Eu não pensei nisso ainda.- respondi seriamente. 
Ela começou a sorrir.
—Então... Meu tio tem um apartamento aqui perto que ele não conseguiu vender depois que se mudou para o Canadá, então, ele cedeu pra mim caso eu pegasse o papel, e esse apartamento tem dois quartos... E acho que não tem problema nenhum você ficar com um...- Ela disse sorrindo.
—Eu não posso aceitar Fern...
—Que tal pularmos todo aquele papinho de "ah não posso fazer isso! É pedir muito, etc e tal" E ir para a parte que você aceita?
—Tah, mas eu só ficarei até achar um lugar para morar.
A Fernanda começou a sorrir e dar pulinhos de alegria; mas parou quando olhou para o relógio.
—Atrasadas?- perguntei.
—Sim.- respondeu a Fê.- Vamos correr, eu não estou afim de perder o meu papel!
E assim disparamos pelo corredor.

Cap 8

—Uau, que dia hein?- falou a Isadora. 
Estávamos indo em direção ao aeroporto internacional, e eu estava contando a minha história para ela. Eu não queria ter que me despedir da Isa. Seria tão difícil me acostumar com tudo sozinha.
—Pois é.-respondi, sem surpresa pelo seu comentário.
Ficamos um tempo em silêncio encarando a paisagem.
—Vou sentir falta daqui, você tem sorte de poder morar aqui agora.- Começou a Isa.- Afinal onde você vai morar?
—Bom... Sabe a Fernanda, aquela menina que estava falando com você, enquanto eu fazia os testes? Então, irei morar com ela.
—Nossa, já fazendo amigas! Mas não se esqueça de mim!- ela disse desesperada.
—Não tem como eu esquecer você! Nem em um milhão de anos!- disse rindo.
—É bom mesmo!- ela respondeu rindo.
Chegamos no aeroporto, e enquanto o Rafael fazia o chek-in, nos despedíamos.
—Vai ser tão difícil ficar sem você.- eu comecei, com lágrimas que teimavam em cair, no meu rosto.
—Avá! Simplesmente estará cercada de celebridades, com comida boa, muito dinheiro...
—Mas não é a mesma coisa sem você!- eu teimei. 
Ela começou a sorrir.
—Bom mesmo! E promete que não me esquecerá?
—Lógico! E nem pense em me esquecer só porque eu estou aqui, a milhões de quilômetros!
Começamos a rir, e percebi que ela também estava chorando.
—Ah, e se você for se casar com o Gustavo manda o convite pra mim hein- teimei.
Ela me encarou.
—Eu só tenho 18 anos ainda!- ela falou horrorizada.
—É, mas vocês já estão namorando a.... Vamos ver, 5 anos?- disse rindo.
—Mas eu só irei me casar aos 28.- ela disse
Começamos a rir, quando o Rafael chegou.
—Vamos, filha?-ele perguntou se dirigindo a Isa.
—Tah... Só mais um minuto vai!- ela pediu.
—Ok, só mais um. Enquanto isso vou comprar uma agua.-Ele disse indo até a loja do aeroporto.
Quando ele se afastou a Isa pulou em cima de mim. No meio do abraço ela colocou algo na minha mão.
Eu me afastei o suficiente para ver o que era. Era uma caixinha.
—O que é isso?
—É um presente oras! Pelo papel que você conseguiu!
Abri a caixinha e vi que era um colar com um pingente em formato de S. As lágrimas se formaram de novo nos meus olhos.
—Isadora, hora de ir!- disse o Rafael se aproximando. 
—Tudo bem.... Tchau Sah!- ela disse me abraçando de novo.
E assim ela se foi, entrando por aquela sala de embarque. E assim eu fiquei sozinha. 

Cap 9

Estava junto com a Fernanda na sala do apartamento. Ele já estava mobiliado, a ponto de que só tive que me preocupar na hora da mudança com as minhas roupas. Com o colar dado pela Isa no pescoço, e meu pijama que eu tinha comprado outro dia, sentei do lado da Fernanda, cuja o cabelo ruivo estava preso em uma trança que caia sobre seus ombros Tinha descoberto que ela era francesa, e que parte da família de seu pai eram americanos. 
Fazia já um mês e meio desde o começo das filmagens. Nesses dias, o que mais fizemos foi ensaiar, e integrar o grupo de filmagem. Tinha me acostumado aos E.U.A, mesmo com a culinária muito diferente. De algum modo tive que começar a conversar com o Ethan por causa da Fernanda, mas nossas conversas se resumiam em: "oi","tchau", e uns olhares estranhos.
—Qual canal?- perguntou a Fernanda.
—Tem algum passando filme?- perguntei.
—Tem "Sempre ao seu lado" se você está afim de chorar.- ela disse.
—Não, obrigado.
Me levantei, e fui até a cozinha. Verifiquei a geladeira, só para descobrir que não tinha nada.
—Nanda?
—Eu.
Ela se virou e percebeu o que tinha de errado.
—Esquecemos do mercado! Que droga, já acabou as compras do mês?
—Ja passou um mês e meio.-disse. 
Verifiquei o relógio. Estávamos numa sexta feira e eram 7:30 da tarde. Acostumamos a dormir cedo por causa do cansaço das filmagens.
—Que tal sairmos um pouco?- perguntei.
Ela me olhou desconfiada.
—Você, querendo sair?-perguntou ela sorrindo.
Ignorei o comentário e fui me trocar. Escolhi uma roupa simples, que se baseava em uma blusa preta, e uma calça jeans. A Fernanda também se trocou, e assim saímos do apartamento.
Passamos pela portaria e fomos pra rua.
—Aproveita a liberdade de sair sem os paparazzi te seguindo .-comentei.
Ela começou a rir.
—Na verdade já noticiaram o elenco.-ela disse.
—Mas não é a mesm... Pera pra onde estamos indo.-perguntei reconhecendo o caminho.
—Eu sei que não é a mesma coisa, mas o elenc...
—Não muda de assunto!-disse, mas mesmo assim notei que tínhamos chegado.
Era um bar que todos do estúdio costumavam se reunir na sexta, já que as filmagens do sábado começavam mais tarde que o normal. Assim que eu fui obrigada a entrar logo atrás da Fernanda, esbarrando em várias pessoas que estavam em pé, e vi por cima de seu ombro, uma mão sinalizando para ela se aproximar. 
Tinha três palpites: primeiro, poderia se a Emma, a menina que filmava a melhor amiga da America, Marlee. Segundo, poderia ser o cara que filmava o Aspen, Angelo. Terceiro, e pior, o Ethan.
Acertei os três palpites.

Cap 10

Quando cheguei na mesa, "sem querer" a Fernanda se sentou na frente da Emma, me deixando apenas um lugar vazio. Na frente do Ethan. Me sentei, e comecei a encarar o cardápio.
—Então, finalmente decidirão sair um pouco?- perguntou a Emma.
—Sim, e o mais surpreendente é que essa idéia foi da Sarah.- falou a Fernanda.
Continuei a encarar o cardápio.
Depois de muito papo furado, pedimos a comida. Eu pedi algo aleatório do cardápio, e fiquei encarando a mesa por um bom tempo, até que a Fernanda decidiu ter uma brilhante idéia.
—Angelo, eu e a Emma queremos ir no banheiro mas não sabemos onde fica. Pode nos levar até lá?- ela perguntou.
Ele hesitou de inicio, mas depois entendeu.
—Claro.- ele disse, já de pé.
Sério? Essa era a melhor desculpa que ela tinha pra me abandonar com o Ethan? Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, elas já saíram em disparada pro banheiro.
Ficamos um bom tempo em silêncio até que ele decidiu falar.
—Ok, não vai dar para nos ignorarmos pro resto da vida.- ele disse me olhando com aqueles olhos irritantemente azuis.
—Ideia melhor?-perguntei seca.
—Meu Deus, você é mesmo cabeça dura hein?
—Como se você não fosse...- murmurei.
—Ta se você quer continuar assim, beleza.- ele disse, voltando a se concentrar na comida.
Ficamos mais um bom tempo em silêncio, até que o telefone dele tocou, e ele atendeu.
—"Alô? Oi Sofi. Sim. Não. Obrigado por guardar os meus livros. Tah, volto provavelmente à uma. Beijos."
Jurei ficar em silêncio, mas no final não aguentei.
—Você gosta de ler?
—Por que a pergunta?-Ele perguntou desconfiado.
—Ah... É que você... Falou na ligação sobre livros.... E eu pensei....
—Sabia que é feio escutar conversa dos outros?-ele disse sorrindo.- Mas sim, eu adoro ler. Foi assim que eu descobri a Seleção.Vi minha prima lendo esse livro e resolvi ler.
—Legal.-comentei.
Ficamos mais um pouco em silêncio.
—E você? Gosta de ler?
—Sim... Foi uma grande amiga minha que me ajudou a começar a ler, emprestando livros, discutindo histórias... Sabe, coisas assim...-eu disse. 
Por quê eu estava falando aquilo?
—Gosta de que séries?- ele perguntou.
—Instrumentos Mortais, Harry Potter, Percy Jackson...
Ele começou a rir. O que eu tinha dito? Agora ele ia ficar tirando sarro de mim?
—Que foi?- perguntei com raiva.
—Nada... É que acho que temos mais coisas em comum que eu pensava.
—Sé..Sério?- Perguntei. Sinceramente eu esperava alguma zoeira em relação a mim, mas com certeza não esperava isso.
—Sim. Eu também gosto dessas séries, em especial Harry Potter. 
Não tinha como eu não sorrir.
E assim passamos a conversar sobre várias histórias, e a conversa ia se estendendo cada vez mais. 
Quando paramos de conversar, percebi que já era meia noite.
—Meu deus! Cade os outros?
Ele olhou espantado para o relógio.
—Vou ligar para...- ele começou, mas parou ao ouvir o toque do meu celular.
Eu o peguei, e vi que tinha uma mensagem.
"Pelo jeito vocês finalmente se entenderam. Só se lembre de que se rolar alguma coisa entre vocês, use o preservativo, não estou a fim de ter que cuidar de uma criança durante as filmagens. 
Beijos
Ps: E se você sequer se preocupou, estou em casa com a Emma. O Angelo foi embora"
Lógico que a mensagem era da Fernanda.
—Elas estão no apartamento, e o Angelo foi embora.
—Ah...- foi só o que ele disse.
Pagamos a conta e saímos. Na rua carros ainda circulavam, mas o numero de pessoas nas calçadas tinha diminuído e o vento soprava forte.
—Então... Nos vemos amanha.- eu me despedi.
—Tudo bem, mas você pode me passar seu telefone? Não estou afim de ficar sempre tendo que ligar para a Fernanda para conseguir te achar.-Ele disse.
—Ok.- disse anotando o meu numero no celular dele.
Devolvi o celular, me despedi, e fui para casa. Fiquei repassando a conversa que tivemos até chegar na porta do apartamento. Entrei na sala, só para descobrir que a Fernanda e a Emma estavam dormindo no sofá com a TV ligada. Decidi tomar um banho, e ir me deitar. 


Cap 11 (acho)
"Estava só eu e um garoto, que o rosto não conseguia desvendar. Estava entre seus braços, querendo se aproximar mais de seu rosto, por um motivo que eu desconhecia. Até que..."
Acordo com os berros da Fernanda, e a luz do sol batendo na minha cara. Sinto algo socando minha cara, e vejo que é a Emma me batendo com um travesseiro.
—Ai!- berrei, mais por raiva que dor.
—Acorda rainha da beleza! Estamos atrasadas!- ela gritou, largando o travesseiro.
Olhei pro relógio e verifiquei que estava muito atrasada. De novo.
Arrumei o cabelo num rabo de cavalo bagunçado, me troquei, peguei uma maça e sai correndo pra sala.
—Finalmente!- gritou a Fernanda.
Ela já estava toda arrumada, e nem olhar pra minha cara direito olhou. Só se levantou e abriu a porta. Saímos em disparada para a garagem, e entramos no carro. Me sentei no banco de trás, enquanto as duas se sentavam na frente.
—Por favor, por favor, por favor, sem trânsito hoje!- escutei a Fernanda murmurando no volante.
Percorremos um longo caminho com a rua livre. Até que em uma parte o transito parou completamente.
—Droga!- berrou a Fernanda, seguido de xingamentos.
Ficamos uns 15 minutos em silêncio até que o meu celular toca.
Ligação:
—Alô?
—Sarah? É o Ethan...
—Ah... Oi Ethan!
—Aconteceu algo? Onde vocês estão! Teremos uma reunião importante e vocês não podem faltar, se não o Sebastian come vocês vivas.-ele disse essa ultima frase sussurrando.
—Tah, tah! Acha que eu não sei? Só tive um problema de não conseguir acoradar no horário!- falei nervosa.
—Não fica nervosa comigo! Só estou tentando livrar vocês de uma advertência do Sab...
—EU SEI!- falei berrando dessa vez.
—Pelo jeito, todo o nervosismo de antes voltou!- ele disse nervoso.
—Olha.- falei respirando fundo.- Ja estamos chegando.
E ele desligou. Ótimo.
—Quem era?- Perguntou a Fernanda quando o trânsito finalmente liberou.
—Ethan.-Respondi, me arrependendo quando vi o sorriso malicioso dela.-Ligou pra avisar que vai ter uma reunião, tá? Nada de mais!- falei nervosa.
—Eu não tinha perguntado nada.- ela disse ainda sorrindo.
E assim seguimos até o estúdio.

—Nem acredito que conseguiram fazer isso de novo! Em cima do horário!-disse o Ethan aos sussurros.
Estava  toda a produção reunida. A ultima vez que tínhamos feito isso foi quando começamos a gravar. 
—É eu sei! Não precisa dar mais sermão! Você desligou o telefone na minha cara!- respondi ao mesmo tom.
—Eu não desliguei...-ele começou, mas O Sebastian tinha começado a falar.
—Querida produção, estamos reunidos aqui hoje para dar uma notícia que irá mudar a rotina de vocês!- ele andou um pouco e pegou uma sacola com vários envelopes.- Bem, sem mais delongas, a nossa noticia! Nós iremos filmar em um castelo de verdade.... Na França, com hospedagem, passagem, tudo pago...
Escutei um coro de "Ó meu Deus!", e eu participei do coro. 
Olhei pra Fernanda e ela estava sorrindo. Na verdade todos estavam sorrindo, menos eu. E. Ethan notou.
—Que foi?-ele perguntou.- não gosta da Europa? Muito frio?
—Não é isso.-respondi sorrindo.- é que... Aqui eu tinha um mínimo de conhecimento do lugar.... Agora lá eu n tenho conhecimento nenhum... Ter que depender da Fê pra tudo, quando ela pode usar o tempo para visitar a família lá, é pedir muito.
—Não tem problema.- ele respondeu sorrindo.
—Por que?
—Por que, você não vai precisar dela.Eu posso te mostrar o lugar.

Cap 12

Estava em casa fazendo as malas, junto com a Fernanda. Tinha se passado suas semanas desde a reunião, e estávamos finalmente indo para a França. O Ethan tinha prometido que ia me mostrar os lugares que ele conhecia. Ele tinha nascido na Inglaterra, mas viajava bastante para a França.
—Dá para acreditar? Vamos a um castelo!- comentou a Fernanda pela vigésima vez.
—Depois que você repetiu o dia inteiro, sim, da para acreditar.-respondi fechando a mala.- Verifica, pelo amor de Deus, onde esta o seu passaporte!
—Ta na minha mala estressada! Ja verifiquei umas cem vezes!- Ela respondeu, se sentando em cima da mala.- pode puxar o zíper, pra isso fechar de uma vez?
Puxei, e a mala dela aparentava que ia estourar a qualquer instante.
—Beleza, temos duas horas para ir até o aeroporto, mas acho que chegar mais cedo não tem problema.- disse.
—Ótimo, então eu já vou me preparar pra sair.- ela disse, indo em direção ao banheiro.
Depois de fecharmos o apartamento, descemos e socamos as malas no porta malas. 
—Vou sentir saudade daqui.- comentei.- Ja estava tão acostumada.
—Acho que você também gostará da França.- ela disse, ligando o carro.
"Espero", pensei.

Chegando no aeroporto, já fizemos o check-in, para depois ficar passeando pelas lojas do aeroporto. Não resisti e acabei comprando um perfume.
Depois de ficar uma hora passeando pelo aeroporto, fomos até nossa o portão da nossa sala de embarque. Avistei alguns da equipe só que acompanhados de... Fotógrafos.
—Senhoritas! Olhem para a câmera!- disseram diversos fotógrafos.
A única coisa que eu via eram flashes. Eles estavam fechando o circulo, me deixando cada vez menos espaço. Tentei passar, puxando a Fernanda pela multidão, mas nada funcionava. Estávamos cercadas. 
Até que surge cinco homens com muitos centímetros maiores que eu, todos vestidos de preto, e abrindo caminhos para entrarmos. Fui tropeçando até a sala de embarque, e fantasmas de flashes ainda incomodavam meus olhos. Depois dessa loucura, me sentei e respirei fundo.
—O que... Foi.... Isso?- falou a Fernanda ofegante. 
—A nossa vida daqui para frente.... Cara fotógrafo é irritante.- comentei.
—Você nem imagina.- respondeu aquela voz com o sotaque forte.
Me virei com um pulo. 
—De onde você surgiu?- perguntou a Fernanda, igualmente assustada.
—Eu estava do outro lado do salão, e vim pra cá. Acho que não é tão difícil.- ele comentou, com as sobrancelhas arqueadas.
—Hahaha, muito engraçado.-Ela comentou-Bom vou no banheiro.
E assim ela se levantou, e se dirigiu ao fim da sala. Agora olhando melhor, esse era um ambiente agradável, com um carpete no chão, e sofás  em vez daquelas cadeiras de metal usuais.
—Eles pagaram tudo, para irmos de primeira classe.- comentou o Ethan, reparando na minha admiração pela sala.
—Uau... Eu não tenho dinheiro para pagar nem uma....
–Não, não e não.- ele disse me interrompendo.- Você não tinha dinheiro, mas agora você tem.
—Nossa. Não parei para pensar nisso ainda....-disse sinceramente.
—Eu gosto disso.- ele disse encarando os aviões através do vidro.
—De que?- perguntei olhando para ele.
—Você não pensa no dinheiro. Seu foco esta no seu amor. O seu amor pelo trabalho... Algo que muitos perderam.
—Sabe... O dinheiro pode cegar muitos, mas os poucos que não se iludem podem viver uma vida alegre.
Estávamos um encarando o reflexo do outro no vidro. Vi um sorriso formando em sua boca.
—Você é uma pessoa muito diferente do que eu pensava, Sarah.
—Digo o mesmo de você Ethan.

Cap 13

O avião tinha chegado, e verifiquei minha passagem.
—Como o combinado, eu, você e a Emma.- falei me dirigindo a Fernanda.
Ela me olhou com uma expressão curiosa. Aquela que me dava medo.
—Que foi...- perguntei.
—Naaada não. Só parece que você não esta tão feliz assim com os lugares...- ela disse toda dramática. 
—Como assim? É lógico que eu quero sentar com vocês!-disse nervosa.
Ela começou a rir.
—A quer... Quer sim....quer é sentar com o Eth...
—Quieta! Para de perder seu tempo fantasiando!-disse nervosa, e sentindo meu rosto corar.
—Ui ui, Celeste.- ela disse cuspindo a ultima palavra.- Eu vou é conferir as passagens, e enquanto isso aproveite o tempo para falar... Com ele.- e assim ela se retirou.
Em vez de aproveitar esse tempo para falar com ele, decidi ligar para a pessoa que eu mais sentia falta.
Ligação:
—Oi?- perguntou aquela voz que eu escutava desde minha adolescência.
—Isa? É a Sarah!
Ouvi um barulho abafado, que julguei sendo ela tampando o celular com a mão. Logo depois uma batida de porta.
—Ta louca! Uma ligação dessa custa quanto pra você?
—Relaxa, eu pago o que precisar para falar pra você!
—Menina, existe Facebook!- ela disse. Reparei que ela estava com a voz diferente... Triste?
—Mas não da para ouvir sua voz, enfim....- falei me irritando.- Lembra da viajem que eu te disse? Estou no aeroporto agora.
—Estou muito feliz por você!-ela berrou. Pude notar um sorriso do outro lado da linha.- Mas cara, vê se me traz presentes da França! E fotos! E autógrafos de todo mundo dai! E telefone dos gatos....
—Chega né? Você tem namorado!- disse rindo.- Okay, já vou ter que desligar.... Mas antes, onde você esta?
—Ah... To na casa do Gus, mas.... Nós brigamos, nada de mais...
—Nada de mais!- gritei. Quando percebi o que eu fiz, diminui a voz.- Na ultima briga de vocês, alguém foi parar no hospital!
—Ai, não devia ter dito...- ela murmurou.
—Devia sim! Você sabe que pode contar tudo! O que aconteceu entre?...
"Embarque do vôo 432, portão sete, destino a França. Ultima chamada."
Que droga viu! Por que o vôo tem que ser agora?
—Olha.... Isadora, pelo amor de Deus, se cuida!- supliquei.
—Tah, tah, vai curtir sua viajem por mim!- ela disse meio triste.- Mande fotos e me manda um email quando puder?
—Claro! Tchau, beijos Isa! Pelo amor....
—Eu vou me cuidar! Beijos!- e desligou.
Sem tempo para me preocupar, fui correndo para o portão, que estava quase se fechando. Se não fosse pela Fernanda, que estava suplicando para a aeromoça esperar.
—Moça por favor... Ali é ela!- a figura ruiva de touca disse, apontando para mim.
—Oi! Desculpa pelo atraso!- eu disse me corando e apresentando o passaporte e passagem.
A mulher olhou feio para mim, mas depois verificou os documentos. Quando me liberou, corri para dentro do avião. 
Passando entre as poltronas, de relance vi o Ethan, que me olhou preocupado. Desviei o olhar e me sentei.
—O que aconteceu?- perguntou a Emma.
—A Isa...- comecei sem fôlego, mas a Fernanda cortou.
—Conversamos depois Emma. Deixa ela um pouco em paz.- e assim ela se sentou, colocando os fones de ouvido, e a Emma fez o mesmo.
Fiquei encarando a janela do avião. Minha preocupação estava a mil, mas sempre que eu pensava na Isa no hospital, como aconteceu na ultima briga, me lembrava da preocupação do Gustavo quando olhava para ela. Eu lembrava de como ele a olhava com amor, e se culpava pelo o que aconteceu, por mais que tivesse sido acidente. Eu lembrava dele chorando e murmurando, que se pudesse trocar de lugar com ela, faria. Eu me lembrava dele falando que a ia proteger de qualquer coisa que pudesse acontecer a ela, e que se chamava de monstro toda vez que se lembrava do ocorrido. Eu me lembrava... Dele a chamando de meu amor... E de como eu sentia inveja disso, por mais que me castigasse por isso. E me lembro de ficar me perguntando se um dia, alguém poderá se apaixonar por mim. 
Depois de um tempo, cai no sono.
 
Cap 14

Acordo com uma pessoa me chacoalhando. 
—Bom dia princesa, dormiu bem?- disse o Ethan.
—Ja chegamos?-disse com a voz embriagada de sono.
—Sim, e você perdeu o almoço... Estava divino.- ele disse, pegando a minha bagagem de mão e me entregando.
Me levantei, e parei para pensar... Onde estavam as meninas?
—Ãhn... Ethan onde se enfiaram a Fernanda e a Emma?
—Ja foram na frente. A Fernanda disse algo sobe que, se eu te acordasse, você talvez melhorasse de humor.- ele disse, ainda andando para o corredor.
Graças a Deus ele estava na minha frente, assim não viu, minhas bochechas que provavelmente estavam vermelhas. Mas o ruim foi que eu não vi a expressão dele quando disse isso.
—Afinal, o que aconteceu para você entrar daquele jeito no avião?- ele perguntou, se virando para me olhar, quando fomos para a sala desembarque.
—Er... É que a minha amiga esta com problemas com o namorado... E eu estou preocupada...-fiquei encarando o chão, sem terminar.
—Não precisa continuar... Eu sei como é se preocupar com um amigo...-ele disse com o olhar distante.
—Sabe?- eu disse o encarando.
—Sim...- ele disse suspirando.- Eu tive um amigo, que o conhecia desde a infância. Cresci perto dele, éramos quase irmãos... Até que ele arranjou uma namorada, só que eles brigavam muito... E até que um dia ela o traiu. Ele ficou desamparado, e eu queria o ajudar... Só que já era tarde. Ele começou a se embebedar toda noite, como se não existisse mais possibilidade de viver nesse mundo, e.... Morreu em um acidente de carro a dois anos.
Fiquei pasma. Nunca achei que um "sinto muito" servisse em um caso como esse. O que eu decidi em seguida, foi a coisa mais estranha que eu podia fazer. O abracei.
Ele hesitou de inicio, mas logo depois retribuiu o abraço, apoiando a sua cabeça em cima da minha. Pude sentir seu peito subindo e descendo; sentir os músculos do braço peito e barriga, o cheiro cítrico de seu perfume, e a sua voz com aquele sotaque que eu amo, quando ele disse:
—Não posso garantir que tudo ficará bem, pois o nosso destino ninguém escreve. Mas fique tranquila, pense nela, mas não pare de viver por isso.
Me desencostei dele, só um tanto para ver seu rosto. Ele estava sorrindo, mas por trás, podia ver a tristeza estampada em seu rosto.
—Sabe que não precisava contar aquilo né? Do seu amigo....
—É, eu não precisava, mas quis.- ele disse me olhando nos olhos, cuja os dele, estavam envolvidos em mares de um azul profundo que revelavam toda a dor da perda.
—Ai que bonitooo Sarah, mas nós temos que pegar um carro sabia?- disse uma voz melodiosa.
Me soltei do Ethan e me virei. 
—Ja vou indo, só deixa eu...- disse mais fui cortada.
—Não, pode ir, eu vou me juntar com o Angelo.- ele disse seco.
Ele estava ruborizado, e algo naquele tom, me golpeou profundamente. Ele se retirou e foi em direção a saída.
—Tsc, tsc, tsc; pega em flagrante.- a Fernanda zombou.
—Olha, por que você tinha que fazer isso?- disse cuspindo todas as palavras.
O sorriso dela se transformou em uma cara apavorada.
—Você esta mesmo... Gostando dele?- ela perguntou em um tom sério, que ela usava raramente.
—Não!- gritei. Respirei fundo e diminui o tom da voz.- Só queria terminar a conversa.... Olha! Vamos perder o carro.-disse correndo para a saída.
Peguei o celular e coloquei os fones, para não ter que falar com ninguém.
Na ida para o hotel, fiquei repassando a conversa na cabeça. Naquela noite no salão de janta, meus olhos inquietos ficaram procurando por alguém que me recusava a admitir. Mas nem sinal dele.
Fui para o meu quarto, e no caminho fiquei pensando... Por que ele tinha saído daquele jeito. Até que escuto passos no corredor, quando me viro, vejo que é o Ethan falando ao celular sério. Sem pensar, me escondi atras da estatua que tinha de enfeite no corredor.
"—Claro que não! Você acha mesmo que isso podia acontecer? Olha, ela é minha amiga, e eu confio nela. Tah, tchau Sô... Também te amo, se cuida."
Meu coração disparou. Era por isso que ele tinha saído daquele jeito... Senti algo estranho dentro de mim. Ciúme? Quando me dei conta, ele estava quase próximo de onde eu me escondia. Sai dali, pelas sombras e fui para o meu quarto. Lá, deitada na minha cama, encarando o teto branco, que era a tela para eu pintar a minha tristeza, fiquei sufocada por pensamentos. Será mesmo que o meu ódio seria capaz de se transformar em... Amor? Mas não importava. Ele tinha outra.

Cap 15

—Que cara é essa?
Estava no restaurante do hotel com a Fernanda. Ainda hoje todos iriam ao castelo, para começar a reconhecer o ambiente de filmagem e provar os figurinos. A Fernanda estava radiante de tanta animação... Ja eu estava com problemas na cabeça.
—Fernanda não é nada.- disse respondendo a mesma pergunta pela milésima vez. 
—Não, imagina.- ela disse remexendo noa comida do prato.- Você só esta com cara de que voltou do cemitério.
Ela ficou me encarando sem resposta.
—Olha eu sou sua amiga! E eu estou preocupada!- ela disse desesperada.
Encarei ela a primeira vez no dia. Estava com uma blusa violeta de mangas cumpridas, mas sem o casaco, porque dentro do hotel era aquecido. Vestia também uma boina, da mesma cor da blusa. Seus cabelos caiam em seus ombros, e seus olhos estavam inquietos, a procura de respostas. 
Decidi contar tudo para ela. 
—Olha Fê... Primeiro promete que não vai me zoar.- disse séria.
—Tudo bem, eu prometo.- ela disse, também .
—Venha comigo. Tenho que te contar isso a sós.
E assim fui guiando-a pelos corredores até o meu quarto,mas não sem antes de conferir se o Ethan se encontrava em algum lugar. Nada.
Fechei a porta e virei para encara-la.
—Okay, já estamos a sós, agora desembucha!- suplicou a Fernanda.
—Tah... Olha não sei como aconteceu mas eu acho.... Eu acho que você estava certa.- disse.
—Certa sobre...- ela perguntou desconfiada.
—Aquilo de ontem!- disse impaciente.
Ela ainda não tinha entendido.
—Ethan!- gritei.
Foi ai que mil expressões se passaram no rosto dela. Desconfiança, pavor, surpresa e por ultimo... Alegria?
—Ahhhhhh!!!! Eu sabia, sabia, sabia! Você gosta do...
—É, é, é, mas não é para anunciar no New York Times! Não é para contar para ninguém!
Ela juntou o indicador e o polegar, e os passou na frente da boca, como uma chave.
—Minha boca é um túmulo! Agora o que você esta esperando? Vai atras dele!- ela disse animada.
Mas seu sorriso desapareceu ao ver minha cara. 
—Que foi?- ela perguntou.
—Ele... Ele tem namorada.- eu disse por fim.
—Como você...?
—Eu escutei em uma conversa dele, no celular. É uma tal de Sophia....já ouvi ele falando duas vezes com ela.- disse amargurada.
—Você tem certeza que...
—Tenho!- disse afinal.
Ficamos um tempo em silêncio. Para mim foram milênios.
—Ah...- foi tudo o que ela disse.
—Olha...- eu disse sem paciência.- Nos vamos ter que sair daqui a pouco, então é melhor você ir pegar seu casaco.
—Tudo bem...- ela disse se retirando.
Eu já ia me virar de costas quando ela disse.
—Obrigada... Pela verdade.
—Ah... Somos amigas né?- eu disse por fim.
Ela sorriu. Assim ela saiu, indo em direção ao seu quarto e me lembrando da... Isadora! 
Fui correndo para o computador. Como eu fui tola em me afogar em problemas e esquecer dela? No facebook nenhuma mensagem. No email também. Twitter? Nada!
Comecei a me desesperar. Fui ver o horário no Brasil. Quatro da manhã.
Que droga! Ela tinha que ter deixado uma mensagem! Eu já estava sem falar com ela a horas, e ela era de se preocupar ao extremo. Eu precisava falar com ela...
—Toc, toc, toc.- disse uma voz atras da porta.
Eu a abri e tive uma surpresa.
—Ethan? O que faz aqui? Não te vi desde o... Aeroporto.
 Os olhos ele se escureceram por um instante, mas logo voltaram ao azul brilhante, de sempre.
—Ah... Estava resolvendo uns problemas... Nada de mais, mas passei aqui para te deixar um recado de Sebastian.
—Sebastian?- disse me surpreendendo ainda mais.
—Ele mandou te entregar isto.- ele disse, me dando uma carta.
—Ah... Okay.- eu disse a final.
—Eu vou indo... Só não se atrase hein?- ele provocou.
—Tah, tah... Obrigada pela carta.- eu disse.
Entrei no quarto e a abri. Não era escrita a mão, era digitada.
"Cara Sarah
Hoje ás 15:00 você terá a prova de seus figurinos. A prova será realizada na sala principal. Você será informada de mais detalhes quando chegar ao local.
Atenciosamente 
Sebastian"
Soltei a carta, e peguei meu casaco. Teria de esquecer da Isadora durante o dia ou enlouqueceria. Mas mesmo assim, antes de sair deixei uma mensagem no Email:
"Isa
Não pude mandar uma mensagem quando cheguei, me desculpe. Mas por favor, me diga o que acontece com você e o Gustavo! Estou morrendo de preocupações aqui! 
Me responda logo!
Sarah."

 
Writer 2

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